Translate

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Colombia: Guerrilhas e Drogas

A Colômbia tornou-se a principal fornecedora da cocaína (um alcalóide derivado das folhas de coca, uma planta denominada Erythroxylon coca) para o mercado norte-americano a partir do final dos anos 70, quando os Estados Unidos retiraram-se do Sudeste Asiático após sua derrota no Vietnã em 1975. Até então os usuários e viciados consumiam - particularmente a heroína -, em sua maior parte, do Triângulo de Ouro (formado pela Birmânia, atual Mianmá, a Tailândia e o Laos), onde os produtores chegaram a contar com a proteção especial de Khun Sa, cognominado o “príncipe da Morte”, chefe de um exército particular, o Mong Tai Army. A heroína vinha também das plantações de papoula da Anatólia turca, do Afeganistão e demais regiões da Asia Menor.

A Colômbia concorre com a Ásia: os traficantes colombianos aceleraram o aumento da produção de cocaína na Colômbia, como no vizinho Peru, para ocupar o espaço aberto pela produção oriental. Calcula-se que o negócio internacional da droga gire hoje ao redor de um trilhão de dólares (8% do comercio global, superior as exportações mundiais de ferro, de aço e de motores de automóveis), cabendo à Colômbia o fornecimento de 80 a 85% da cocaína consumida nos Estados Unidos.

A droga nos Estados Unidos: o uso de drogas na América, por sua vez, resultou de uma mudança de costumes, fazendo com que o mercado consumidor norte-americano se tornasse no maior e mais ávido por drogas no mundo inteiro. Nos anos 20 a grande preocupação das campanhas moralistas era o combate às bebidas alcóolicas, fazendo aprovar a Lei Seca que proibiu o seu consumo em todo o território dos Estados Unidos, até ser revogada em 1933. O Movimento Hippie dos anos 60 - a década do Sex, drugs and rock and roll -, resultante da profunda crise moral e ética provocada pela intervenção norte-americana numa guerra extremamente impopular, fez com que a recorrência à droga fosse entendida por amplos setores da classe média e dos intelectuais - especialmente pelos ideólogos da contra-cultura -, como uma contestação à sociedade em que viviam. Da maconha, um fumo proletário de iniciação, foi um salto para excitantes mais pesados, como a “burguesa” cocaína, e a “aristocrática“ heroína.

A religião química: naquela década tormentosa e desafiadora um catedrático de Harvard, o professor Thimoty Leary, dedicou-se a fazer apologia do uso do LSD (o ácido lisérgico), um poderosíssimo agente alucinógeno, iniciando o “drug cult” entre a elite literária e artística e mesmo empresarial dos Estados Unidos. Thimoty foi um seguidor de Aldous Huxley, um escritor inglês que vivia nos Estados Unidos, que no seu livro “The Doors of Perception”, (As portas da percepção, 1954), relatou suas “viagens” com a mescalina, recomendando as drogas como uma “religião química”, para aqueles “que, por alguma razão, não conseguiam transcender a si mesmos por seus meios ou pela veneração”.

As Leis Anti-droga: a legislação norte-americana de combate as drogas data do início do século 20. A Lei Harrison contra os narcóticos é de 1914. Foi complementada tempos depois pela Lei do controle sobre as drogas narcóticas de 1956, e pela Emenda de controle sobre o abuso de drogas de 1965 ( Drug Abuse Control Amendment). A mais recente delas é a Anti-drug Mesure de 1987, que fixou penas severíssimas mesmo para a maconha. Nada serviram porém a não ser para punir com prisão, com penas cada vez mais elevadas, os envolvidos no tráfico.

As drogas como costume: uma das razões da persistência do seu consumo é que as drogas foram incorporadas à rotina de quase todas as classes sociais. Seus usuários pretextam utilizá-las devido a sociedade norte-americana resultar de um capitalismo ultra-competitivo que a torna cada vez mais atomizada, individualista, egocêntrica e narcisista.

Usam cocaína, especialmente os gerentes e executivos, para se sentirem capazes de superar a letargia e o cansaço, habilitando-os a concorrer, como um estimulante para render o máximo possível. E, é claro, como um imaginário equilíbrio psicológico qualquer, mesmo que isso implique em arriscar-se à dependência, ao vício , à violência e às atitudes anti-sociais. Hábito este que chegou até a plebe norte-americana, o povo slum dos subúrbios das grandes cidades, que encontrou no proletário crack, uma maneira de acompanhar o modismo.

Disto resulta, desta infeliz democratização do consumo de estupefacientes, que as apreensões das remessas de drogas, apesar dos enormes gastos feitos pelos E.U.A - 20 bilhões de dólares entre 1980/90 - terem sido pouco significativas. Calcula o General Accounting Office do Congresso dos E.U.A que, das 780 toneladas métricas da produção mundial de cocaína, somente 230 (ou 29,5%) delas foram capturadas. No caso da heroina o desempenho foi ainda menor: das 300 toneladas métricas produzidas, só 32 delas foram apreendidas.

A caça ao traficante: incapaz de solucionar o problema, a política oficial norte-americana voltou-se para responsabilizar os narcotraficantes e os produtores das drogas. Aos hispânicos, a gente latina em geral, a quem os americanos desprezam. Assim a Colômbia, além de receber um conceito negativo que o governo norte-americano atribui todos os anos aos países que estão envolvidos com drogas, tornou-se o centro da vilania e uma ameaça aos valores universais permanentes.

Os privilégios do narcotráfico: esta pecha lançada sobre a Colômbia, de ser conivente com os criminosos, reforçou-se ainda mais depois que o governo local concedeu - em troca da lei anterior que determinava a extradição dos condenados pelo narcotráfico, os barões da coca, para os Estados Unidos -, que eles cumprissem pena na Colômbia em condições especialíssimas. Pablo Escobar, o mais conhecido dos traficantes, considerado o cápo dos cápos, foi detido num casarão-fortaleza construído somente para ele. Mesmo assim, insatisfeito, ele fugiu da prisão, sendo morto tempos depois numa perseguição policial. Até então ele tinha sido o principal responsável por uma onda de assassinatos visando juízes, promotores e políticos colombianos que combatiam o narcotráfico, fazendo com que o estado fosse abertamente enfrentado por uma avalanche de atentados à bombas e mortes por encomenda.

Pesquisado por: Danilo Manchini

Nenhum comentário:

Postar um comentário